Terezinha de Jesus
Recobro
os tempos da infância
Quando
eu era ainda bem criança
E
saía brincar á tardinha
Momentos
em que também vinha
A
surgir num de repente
Aquela
miniatura de gente
Apelidada
unicamente Maria Chiquinha
Era
bela e por demais atraente
E
também graciosa aquela guriazinha
Com
a delicadeza que tinha
Que
por vezes até me contaminava
Junto
comigo brincava
A
originar-se mil fantasias.
Quando
ninguém nos interferia
Naquela
alusão toda minha
Lhe
chamava de minha rainha
No
velho instinto de macho
Com
inocência acariciava os cachos
Dos
sedosos cabelos da Maria Chiquinha.
Jamais
percebíamos a distância entre nós
Seu
pai, um rico e conceituado estancieiro
Eu,
na realidade, filho de um pobre posteiro
Que
ganhava por dia apenas 7 mil réis
Enquanto
o patrão hospedava-se em luxuosos hotéis
Nós
comíamos apenas feijão mexido com banha e farinha.
Pois
era na realidade tudo, tudo o que se tinha
O
que agradecíamos diariamente aos nossos pais
Porque
o pouco com Deus já muito nos satisfaz
Mas
quando a Chiquinha chegava feliz e contente
A
sentar-se a meu lado para comer com a gente
Sem
perceber minhas bombachinhas rasgada atrás.
A
proferir minha narrativa
É
recorrer igualmente a própria etimologia
É
relembrar com regozijo aquela guria
De
onde me faltam inovados argumentos
Onde na vida, em mágicos momentos
Busca-se
a verdade em inovadas ficções.
Em
fadas, em sonhos e notórias razões
Buscando
o destino que não se desdobra
Por
mais que se insista em ocultas manobras
Deus
concede a todos nós o direito de sonhar
Para
tudo na vida existe o seu lugar
Onde
sempre realidades se estampam com sobras.
O
laço do tempo desenrodilhou-se tão rapidamente
Foram
oito, dez, doze anos talvez
Quando
no entanto chegou sua vez
A
interpelar-me com certa desconfiança
A
insinuar que já não era mais criança
Que
eu deveria chamá-la pelo nome correto.
Em
que foi batizada e registrada por certo
Em
uma determinada presunção a que se deduz
E
uma certa arrogância a que me conduz
Sem
discrepância, diferença ou egoísmo
Comecei
a chamá-la no entanto pelo nome de batismo
O
que seria excepcionalmente Terezinha de Jesus.
No
mistério mais profundo em que a vida nos envolve
Tudo
se resolve como a natureza requer
Aquela
guriazinha aos poucos tornou-se mulher
Com
seios bonitos, cintura fininha
Mas
pra mim continuou sempre a mesma Chiquinha
A
criar em minha mente milhões de fantasias.
Em
tê-la em meus braços pra sempre um dia
Onde
a fé que nos move jamais se reduz
Em
sólidas razões para que me propus
Em
fantasiá-la ao meu lado feliz e tão bela
Com
véu e grinalda adentrar a capela
Da
Virgem Maria Senhora da Luz.
Mas
o tempo gaudério galopou tão depressa
Onde
me fiz ao relento rude domador
Na
arte de tranças tornei-me doutor
Trabalhando
com afinco, perfeição e esmero
Aprimorando
rédeas, laços e aperos
Na
respeitabilidade mais prepotente de um homem.
Onde
a afabilidade na humildade se consome
Derrubei
no caminho minha própria identidade
Sem
perder, no entanto a virtual dignidade
A
constatar um dia Maria Chiquinha
Que
eu sempre sonhei ser a minha eterna rainha
Preconceituosamente
me chamar de guasqueiro
Rasqueteei
meu malacara, joguei em riba o bacheiro
Coloquei
o arreio, pelegos e me bandeei pra cidade
Em
busca da dita e sonhada sociedade
Que
seria o nosso centro de tradições
Onde
entrei sem fazer menores alusões
Guardei
meu chapéu, tirador, minha mala.
Convidei
a primeira prenda e fui para a sala
Dançando
uma vaneira em grande estilo
Entretanto
escutei uma voz que dizia: - O que é aquilo?
Será
que este pobre peão não conhece o seu lugar?
Ou
mesmo ainda não deixou de ser vulgar?
Enxuguei
então minhas lágrimas com o próprio pala.
Este
rapaz é o guasqueiro do papai
Foram
palavras que ressoaram em minha mente
Que
até hoje as ouço frequentemente
Onde
procurei assimilar com grande calma
Mesmo
ferindo minha imperecível alma
Quando
meus dias passaram a ser tristonhos.
A
Maria Chiquinha hoje só mesmo a vejo em sonhos
Aquela
estância pra mim tornou-se apenas história
Os
lindos trançados ainda vagam em minha memória
Meu
tirador, minhas botas, minha mala
Minhas
bombachas, chapéu e meu pala
São
resquícios de um passado que ainda mais se distancia.
Em
caladas da noite em frequentes calmarias
Ainda
com frequência recordo a minha Maria
Hoje
a ilusória Chiquinha suponho
A
notável Terezinha dos meus sonhos.
Talvez
sendo ela a brilhante estrela guria
Que
nasce no horizonte radiante de luz
Mais
a estrela dalva que a todas vigia
Talvez
seja a mais radiante das três marias
A
minha eternamente sonhada Terezinha de Jesus.
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